segunda-feira, 23 de junho de 2008

Da beleza da morte à morte da beleza…


Klimt - Morte e Vida

“O mito moderno do progresso, tão grato aos «grandes relatos» ideológicos, tende a fazer da morte uma etapa marginal na história do indivíduo totalmente assimilado à causa, sacrificado ao triunfo da ideia: a morte é ignorada, camuflada, escondida, fátua «flor negra» sobre os prados do absoluto…

Este «declinar da morte» conjuga-se também com o «declinar da beleza»: o belo é transformado em espectáculo, reduzido a bem de consumo, de modo a que dele seja exorcizado o desafio doloroso e os humanos sejam ajudados a já não pensar, a evitar a fadiga e a paixão do verdadeiro, para se abandonarem ao imediatamente desfrutável, calculado com o único interesse do consumo imediato. É o triunfo da máscara, em detrimento da verdade; é o nihilismo da renúncia a amar, onde se busca fugir da dor infinita da evidência do nada, fabricando máscaras tranquilizadoras, por detrás das quais se oculta o carácter trágico do vazio. No grande mercado da «aldeia global», parecem desaparecer os sinais da beleza: a máscara da propaganda parece triunfar em todas as frentes, a respeito da seriedade trágica da interrupção sem defesa da verdade e da beleza últimas. O «eclipse da morte» revela-se inseparável da «morte da beleza»: a fragilidade do fragmento não parece aguentar o peso do Todo que aí irrompe…”

Bruno Forte, En el umbral de la Belleza, 2004, 158.

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