terça-feira, 25 de maio de 2010

Primeira Célula Viva Artificial




O Vaticano manifesta-se com prudência até compreender melhor as possíveis implicações éticas, admitindo que esta descoberta é um sinal “da grande inteligência” do homem.
“Todos os êxitos científicos são válidos se se adequarem à dimensão ética”, a qual leva no seu coração a dignidade autêntica da pessoa”. Foi esta a reacção do presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Angelo Bagnasco, arcebispo de Génova, ao ser questionado sobre a posição da Igreja acerca da bactéria obtida nos Estados Unidos a partir de ADN sintético.
O ser vivo obtido no Instituto J. Craig Venter de Rockville é uma bactéria dotada de um genoma artificial. Este genoma é uma cópia, com algumas pequenas diferenças, do de uma bactéria real. A novidade é que este genoma foi reconstruído em laboratório a partir de informações genéticas introduzidas num computador. Este avanço científico abre caminho para manipular genomas tendo em vista a criação de micro-organismos benéficos para a Humanidade. Por esse motivo, a Santa Sé está a reunir informações com vista a poder oferecer um juízo ético sobre a notícia dada pelos geneticistas estadunidenses.

Bagnasco reconheceu em Turim que a confirmação desta descoberta será “mais um sinal da grande inteligência do homem”, embora o próprio director do Gabinete de Informação da Santa Sé, o padre Federico Lombardi, tenha falado com cautela: “É necessário esperar, para saber mais sobre este caso”. Declarações semelhantes foram as do arcebispo Rino Fisichella, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, e do seu predecessor no cargo, monsenhor Elio Sgreccia.

A descoberta foi anunciada na revista Science, por Craig Venter, conhecido como um dos pais do genoma humano. Venter afirmou que a sua equipa tinha criado, pela primeira vez, uma célula controlada por um genoma sintético.

“O ADN não é a vida”

A edição de 22 de maio, em italiano, do diário da Santa Sé, L'Osservatore Romano, publica um artigo do doutor Carlo Bellieni, director do Departamento de Terapia Intensiva Neonatal da Policlínica Universitária de Siena (Italia) e membro da Academia Pontifícia para a Vida, no qual pede “audácia e cautela", segundo relata Zenit.
Bellieni esclarece que a descoberta de Venter constitui uma meta para a biogenética; contudo, precisa que “não se criou a vida; substituiu-se um dos motores”.
Citando o geneticista David Baltimore, do California Institute of Technology, acrescenta: “Não criaram a vida: apenas a copiaram”.
“Para além da publicidade e dos títulos dos jornais, conseguiu-se um resultado interessante que pode ter aplicações e que deve ter regras, como tudo o que toca no coração da vida”, alerta Bellieni.
"A engenharia genética pode fazer o bem" -continua. "Basta pensar na possibilidade de curar doenças cromossómicas”.
“As intervenções sobre o genoma podem curar, mas tocam num terreno sumamente frágil, no qual o ambiente e a manipulação desempenham um papel que não deve ser menosprezado”. Assim, conclui, “o ADN, embora seja um óptimo motor, não é a vida”.
Venter, a autor da descoberta, afirmou: “Creio que as regulamentações existentes não bastam, e como autores desta descoberta e responsáveis pelo seu desenvolvimento queremos que se faça tudo o que for possível para prevenir abusos".

Traduzido e adaptado de Forumlibertas
SP