terça-feira, 31 de março de 2009

Edward Green e o Papa




Edward Green, o maior perito em Sida da Universidade de Harvard, afirma que existe uma relação entre maior disponibilidade de preservativos e maior taxa de contágios de Sida. Deste modo, o cientista confirma as palavras do Papa Bento XVI, no avião que o levou aos Camarões, nas quais afirmou que a postura da Igreja é que o problema do Sida “não se pode resolver só com a distribuição de preservativos; pelo contrário, corre-se o risco de aumentar o problema”.
Numa entrevista à National Review Online, Edward Green, que não se declara católico nem contrário ao preservativo, afirma: “O Papa tem razão. Os nossos melhores estudos mostram que há uma relação consistente entre maior disponibilidade de preservativos e maior taxa de contágios de Sida”. De igual modo, o cientista, director do Projecto de Investigação de Prevenção do Sida de Harvard, constatou que “as evidências que temos apoiam os seus (do Papa) comentários. Não podemos associar maior uso de preservativos com menor taxa de Sida”.
O perito alerta para a causa deste fenómeno, o conhecido “comportamento desinibido”: “Quando se usa um meio técnico, como o preservativo, para reduzir um risco, frequentemente perdem-se os benefícios porque as pessoas correm maiores riscos do que quando não usavam o meio técnico”.
Edward Green é médico antropólogo com mais de 30 anos de experiência em países em via de desenvolvimento. A sua experiência inclui o Sida e doenças sexualmente transmissíveis, planificação familiar, cuidados primários de saúde materna e saúde infantil, e programas de cancro. Publicou cinco livros e é autor de mais de 250 estudos e pareceres técnicos. Vai publicar brevemente Sida e Ideologia, onde denuncia como a indústria recebe milhões de dólares a título de promoção do uso do preservativo, medicamentos e tratamentos para o Sida, e onde afirma que a solução está na mudança de comportamentos.
O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA (ONUSIDA) admitiu, no passado mês de Janeiro, ter inflacionado o número de infectados no mundo, depois de Edward Green, Daniel Halperin e James Chin terem apresentado dados científicos. Os analistas confirmaram que esta estratégia beneficiou a indústria do Sida que pede constantemente mais fundos. James Chin afirma que, apesar das correcções, os números continuam a ser elevados, havendo 25 milhões de enfermos, enquanto a ONUSIDA defende que há 33 milhões. Em África, o diagnóstico do Sida realiza-se através dos sintomas–enfraquecimento das defesas do organismo, doenças oportunistas, etc. Este tipo de diagnóstico é completamente impreciso. Numerosos peritos e cientistas denunciaram que se diagnostica como Sida o que é simplesmente fome. É uma estratégia manipuladora para mudar o nome dos problemas. Faz-se passar por Sida o que é fome, num terceiro mundo vítima do capitalismo selvagem. Tal estratégia gera milhões de subsídios públicos que embaratecem os medicamentos e beneficiam os grandes grupos farmacêuticos. O modelo de luta contra o Sida em África, centra-se, na perspectiva do ocidente, no envio de medicamentos e na distribuição de preservativos, em detrimento de uma educação sexual integral e melhores condições sanitárias e alimentares da população.
Edward Green opina que o paradigma da luta contra o Sida continua a ser o do Uganda que, nos anos 80, iniciou uma campanha que fomenta a monogamia, tentando modificar os comportamentos sexuais a um nível mais profundo.
Segundo a OMS, o Uganda tem a descida mais espectacular de infectados. Passou de 1.100.000 em 2001, para 940.000 em 2007. Mas se analisarmos a percentagem dos últimos 17 anos, passa de quase 14% para 5,4%. O Uganda tem numeroso grupo de cristãos, e não baseou a sua estratégia no preservativo, mas no restabelecimento da família tradicional africana. O Papa acentuou que a monogamia era a melhor resposta contra o Sida em África, o mesmo que constata Green ao afirmar que “as nossas investigações mostram que a redução do número de parceiros sexuais é a mais importante mudança de comportamento associada à redução das taxas de contágio do Sida”.
Ao mesmo tempo, a ONUSIDA reconheceu, em Março deste ano, que o “o início mais tardio da vida sexual e a fidelidade entre os parceiros” são parte das acções preventivas para evitar o contágio do HIV. Os métodos reconhecidos como mais fiáveis para prevenir o Sida são os divulgados pela OMS, chamados “ABC”(Abstinence, Being faithful, using Condoms – Abstinência, Fidelidade, Preservativo)

(Foto e resumo livre de um texto apresentado por http://www.forumlibertas.com/)

Luís Silva Pereira

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Chaga do Lado




Sempre estranhei que os artistas que representaram Cristo crucificado tenham colocado, na grande maioria das vezes, a chaga aberta pela lança no lado direito do peito. Deveriam colocá-la do lado esquerdo, achava eu, partindo do suposto de que o soldado romano que trespassou Cristo, por mais desatento ou ignorante que fosse da anatomia humana, também haveria de o trespassar pelo lado esquerdo, uma vez que pretendia atingir directamente o coração. É aí, com efeito, que sentimos palpitar o coração, é nesse lado que toda a tradição cultural, erudita ou popular, o coloca. Ocorrem-me de repente uns versos da região de Miranda do Douro que dizem assim:

Apalpei meu lado esquerdo
Não achei meu coração.
Logo me deu um palpite
Que estava na tua mão”.

Poderíamos supor que os artistas se fundamentaram nos Evangelhos. Contudo, desse pormenor nada ficou, nem no Evangelho de S. João, em grego, o único que relata o episódio, nem na tradução latina da Vulgata, feita por S. Jerónimo. Também não aparece, quanto conseguimos averiguar, nas narrativas apócrifas que muito apreciam minúcias realistas e até mesmo pitorescas e que, precisamente por isso, em bastantes casos, influenciaram a iconografia sagrada. S. João apenas diz que um dos soldados, vendo Cristo já morto, “perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água” (Cap. XIX, 34). O termo grego que ele utiliza é πλευράν, que significa simplesmente lado, sem especificar de qual deles se trata. Por sua vez, a Vulgata latina traduz por latus, igualmente sem especificação.
Não poderá vir daqui, portanto, a tradição iconográfica de representar Cristo ferido do lado direito, tradição que terá começado numa iluminura do Evangelho Siríaco, datado do ano 586. Aí se pode ver, de facto, Cristo na cruz a ser trespassado, no lado direito, pelo célebre e apócrifo Longuinhos que, segundo a lenda, obteve a graça de ser curado quando uma gota do sangue de Cristo lhe caiu sobre a vista cega.
A predilecção quase unânime dos artistas pelo lado direito poderia perfeitamente explicar-se por razões de simbolismo cultural. O lado da salvação é o lado direito. É do lado direito que os artistas colocam o Bom Ladrão, embora os Evangelhos não digam de que lado ele estava. É do lado direito que colocam Nossa Senhora. É para o lado direito que fazem inclinar a cabeça de Cristo quando morre. Para o lado direito lhe inclinam o corpo na descida da cruz. Para esse lado convoca Jesus Cristo os bem-aventurados, no dia do Juízo Final. Ao lado direito do Pai se senta Cristo na sua glória, e é ao lado direito de Cristo que Nossa Senhora é coroada depois da assunção aos Céus. Simbolicamente, portanto, parece muito mais conveniente a chaga do lado direito porque o sangue e a água que dela saíram são geralmente interpretados como sinais da fundação da Igreja pela água do baptismo e pelo sangue da Paixão e, portanto, como sinais da salvação dos homens.
Do ponto de vista estético, seria também mais conveniente colocar a chaga desse lado. Se Cristo inclinou para lá o corpo, ao morrer, então seria muito mais fácil pintá-la ou desenhá-la. Bastava um simples traço vermelho ou um risco a preto. Se a pusessem do lado esquerdo, a inclinação do corpo para a direita faria com que a abertura da ferida ficasse mais escancarada, tornando-se também mais difícil a sua representação gráfica, pictórica ou escultórica.
Lembrei-me, em dado momento, por simples curiosidade, de verificar de que lado estaria a marca da chaga na célebre síndone de Turim. Fiquei estupefacto. A síndone de Turim revela que a chaga se encontra precisamente do lado direito! Os estudiosos dessa espantosa relíquia determinaram mesmo que a lança penetrou entre a quinta e a sexta costelas. Mais ainda: para sair a água (a linfa), e sangue, a ferida teria que ser feita pelo lado direito. Só assim atingiria a parte do coração que, nos cadáveres, fica cheia de sangue.
Não se pode daqui concluir, de modo nenhum, que a fonte de inspiração dos artistas tenha sido o lençol no qual, segundo se crê, o cadáver de Cristo esteve envolvido. Bastaria um só facto para refutar tal conclusão: apenas com a descoberta da fotografia foi possível, através do negativo fotográfico, olhar a “verdadeira realidade” que mostra a chaga do lado direito. No lençol, ela está no lado esquerdo porque a imagem do lençol é uma imagem invertida. Se os pintores se tivessem inspirado nela, teriam pintado a chaga no lado esquerdo, tal como aparece à vista. Mais ainda: só a partir de meados do séc. XIII é que se generaliza a pintura de Cristo na cruz com um pé sobre o outro, normalmente o direito sobre o esquerdo. Antes representavam-se geralmente separados. Ora a síndone mostra que os pés estiveram realmente pregados um sobre o outro (o esquerdo sobre o direito), e não lado a lado. Outro pormenor ainda: salvo raríssimas excepções, os artistas colocam os pregos na palma das mãos. A síndone revela que eles foram cravados nos pulsos. A síndone de Turim, pelas razões aqui apresentadas, e outras que não posso aqui referir, não foi, portanto, a fonte da iconografia da crucifixão.
Será de admitir uma tradição oral que identificou o lado pelo qual Jesus Cristo foi trespassado. Digo oral porque, estranhamente, só com São Bernardo, no século XII, é que aparece, pela primeira vez, uma referência escrita, num sermão da Paixão, ao lado direito.

Luís Silva Pereira