domingo, 18 de maio de 2008

Maria: um modelo educativo


É com grande entusiasmo que o Seminário Conciliar S. Pedro e S. Paulo (equipa formadora e equipa de Comunicação Social) colaborará no blog o Bom Pastor. Será certamente uma oportunidade para partilharmos neste espaço as nossas reflexões, crítica e pensamentos sobre a teologia, a vida da Igreja, a liturgia, a sociedade, a cultura, livros, música, cinema, entre outros. Para iniciar, e porque estamos no mês de Maria, apresentamos um olhar diferente sobre a figura de Maria, na sua dimensão educativa, a partir de Augusto Cury.

Maria: um modelo educativo


Tem surgido na actualidade uma preocupação crescente com a educação dos mais novos. Procuram-se modelos, pedagogias, debates para resolver casos que começam a ser bem preocupantes nas sociedades modernas. Sintomático disso é o conjunto de manuais e livros que têm saído sobre a educação e a necessidade urgente de mudança de paradigmas. Andamos à procura das melhores formas, ou como diz Augusto Cury “no tempo actual em que a educação mundial, do ensino básico à universidade, está a formar uma massa de jovens que não pensam criticamente nem sabem lidar com os desafios existenciais, estudar a mulher que foi incumbida de educar o Menino Jesus oxigena a nossa inteligência” (A. Cury, Maria, a maior educadora da história, pg.12).
Este autor, psicanalista, pensador e escritor muito conhecido, aborda a educação de uma forma invulgar. No seu livro “Maria, a maior educadora da História”, a temática da educação é analisada a partir de Maria. Trata-se de uma educação feita a partir de uma história concreta, de uma pessoa particular, acima de qualquer suspeita, a não partir de um sistema teórico. A grande crise da educação é que raramente se pensa nas pessoas, partimos sempre de constructos e de sistemas mais ou menos complexos. Facilmente esquecemos os rostos que estão por detrás dos sistemas. Perdemos em certa medida referências, exemplos concretos com os quais nos possamos identificar e moldar estruturalmente.
O autor apresenta dez princípios que Maria usou para educar Jesus. São, sem dúvida, princípios bem humanos a partir dos quais podemos construir a personalidade e a identidade. Mas que princípios são esses que o autor vê em Maria como algo de sublime e único? Nas suas próprias palavras, “se fosse uma mulher frágil, assaltada pelo medo e pelo stress, teria condições de educar o filho de Deus, cuja história foi pautada por frustrações e rejeições? Se fosse insegura e superprotectora, não teria ela afectado o território da emoção do menino? Se amasse o exibicionismo e não a descrição, o seu processo educacional não seria um desastre?” (Ibidem, 12). Pensemos um pouco neles:
1. A história humana de Maria é pautada por contrato de risco, onde soube lidar com as turbulências imprevisíveis e com a novidade que iam surgindo na sua vida. Aceitou ser mãe de Jesus “começou a andar no fio da navalha entre a aceitação e a rejeição, os aplausos e o vexame social” (Ibidem, 15).
2. Maria era rápida a agradecer e corajosa no agir. Isto é, Maria não era “especial porque foi escolhida, ela foi escolhida porque era especial” (Ibidem, 34).
3. Maria usava a intuição e não um manual de instruções para educar o Menino Jesus. “A mãe do menino Jesus via com os olhos do coração…, ela foi escolhida não porque sabia muito, mas porque era uma especialista em aprender” (Ibidem, 43.46). Educar na intuição ajuda a ver muito mais que os simples erros, estimula a ver o invisível, a não sermos servis.
4. Maria educava o seu filho para servir e a sociedade e não para ser servido por ela. “De todos os compromissos sociais de Jesus, o do amor é o mais solene. O seu discurso sobre o amor não tem precedentes na História. Ninguém disse palavras semelhantes. Ele difundiu amplamente: «Amai o próximo como a vós mesmos»” (Ibidem, 66). Este é o maior tesouro que podemos professar: Deus é amor. Uma educação assim seria revolucionária…!
5. Maria tinha uma espiritualidade inteligente, transformava informações em sabedoria. “Maria viveu a Resolução 181 da ONU quase dois milénios antes dessa instituição existir. Tolerância e generosidade eram as suas marcas” (Ibidem, 81).
6. Maria estimulava a protecção da emoção. “Maria teve de sofrer com maturidade para educar com profundidade” (Ibidem, 90).
7. Maria estimulava a ambição interior. “Milhões de pais estão a criar os seus filhos e não a educá-los, para consumir produtos e não ideais para libertar a criatividade, ousadia, para lidar com perdas e frustrações” (Ibidem, 107).
8. Maria vivia e ensina a arte da contemplação da natureza. “Os pais que educam os seus para terem um contacto com a natureza não apenas enriquecem a emoção, como impulsionam a expansão das estruturas cognitivas” (Ibidem, 119).
9. Maria estimulava a inteligência para construir um projecto de vida e a disciplina para executar. “Os projectos não nos tornam heróis, mas dão-nos condições para sobreviver quando não há chão para caminhar e um ombro para nos apoiar (Ibidem, 129).
10. Maria contava a sua história de vida como o melhor presente na educação do seu filho. “O educador de excelência é o que abraça quando todos rejeitam. Educar é transportar-nos para o mundo do outro sem penetrar nas suas entranhas… é caminhar sem ter certeza de onde se vai chegar” (Ibidem 142.15).
Sentimo-nos tão modernos e tão pouco abertos á história, à memória e à herança que ao longo dos séculos fomos recebendo. Buscamos incessantemente novas verdades e ideias e esquecemos que outros já passaram o mesmo por nós. Se os homens acreditassem que a Palavra de Deus tem uma pedagogia realizada e aceite por pessoas concretas (Maria, por exemplo), talvez percebamos que o ser humano tem futuro somente numa pedagogia do amor.

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