segunda-feira, 12 de maio de 2008

Etty Hillesum, Diário


Oração de Domingo de manhã (12 de Julho de 1942)



Vou prometer-te uma coisa, Deus, só uma ninharia: não irei sobrecarregar o dia de hoje com igual número de preocupações em relação ao futuro, mas isso custa um certo exercício. Cada dia já tem a sua conta. Vou ajudar-te, Deus, a não me abandonares, apesar de eu não poder garantir nada com antecedência. Mas torna-se-me cada vez mais claro o seguinte: que tu não nos podes ajudar, nós é que temos de te ajudar, e, ajudanto-te, ajudamo-nos a nós próprios. E este é a única coisa que podemos preservar nestes tempos, e também a única que importa: uma parte de ti em nós, Deus. E talvez possamos ajudar a pôr-te a descoberto nos corações atormentados de outros...

Do Diário de Hetty Hilesum (1941-1943) traduzido para português e editado pela editora Assírio e Alvim, na colecção "Teofanias".
Dela diz Tolentino Mendonça, no prefácio desta tradução: "A 9 de Março de 1941, quando Etty Hillesum começou a escrever, no primeiro dos oito cadernos de papel quadriculado, o texto que viria a ser o seu Diário, estava-se longe de pensar que começava aí uma das aventuras literárias e espirituais mais significativas do século. Ela tinha vinte e sete anos de idade e morreria sem ter feito trinta".



(Luís Marinho)

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