quinta-feira, 4 de setembro de 2008


Wilfried Schwabe, 2007

« Cristo não é, primeiramente, o mediador entre os homens e Deus. Cristo é, primeiramente, o mediador entre cada eu consigo mesmo, permitindo a cada eu ser um eu. Esta não é uma relação abstracta, redutível a uma conceptualização formal. Há, já o dissemos, uma existência fenomenológica, uma carne. Se é a ipseidade originária do Arqui-Filho que edifica o eu, unindo o eu consigo mesmo, esta relação unificadora é também o alimento que apascenta as ovelhas, as nutre e lhes assegura o crescimento, porque o eu unificado consigo acresce-se e engrandece-se. Este acréscimo em qualquer possível eu, esta auto-afecção que toca o eu em toda a extensão do seu ser é o corpo, a carne fenomenológica, o corpo vivo. Sou-me dado a mim mesmo, neste corpo vivo e assim sou um eu, sou o meu eu. Mas, não sou eu que me dou a mim, não sou eu que me unifico. Eu não sou a porta que me abre a mim mesmo. Eu não sou a erva que me alimenta e me faz crescer. No meu corpo sou-me dado, mas eu não me dou o meu corpo. A minha carne, o meu corpo vivo é o de Cristo. É o que diz Aquele que João cita: «Eu sou a porta: aquele que entrar por mim… entrará e sairá e encontrará pastagens» (Jo 10, 9)".

Michel Henry, Eu sou a verdade, Ed. Vega, 1998, 120-121.

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