segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Homossexualidade e adopção

Yves Klein, Antropometria

O neologismo “parentalidade” – funcionalista e gerador de confusão – tem por ofício disfarçar as implicações, necessariamente sexuadas, ligadas a este termo. Enquanto “parental” pode ser entendido numa pseudoneutralidade, “pais” significa “pai” e “mãe”, implicando necessariamente um homem e uma mulher, a menos que o sentido das palavras da língua venha a diluir-se totalmente. Mesmo que se tenha em conta a importância das mediações simbólicas e racionais, a fundamentação corporal da paternidade num corpo masculino e da maternidade num corpo feminino é um dado irredutível e estruturante.
Ouvimos, por vezes, dizer que se a criança tem necessidade de duas (ou várias) referências identificadoras diferenciadas, estas podem ser exteriores ao núcleo familiar. Sem dúvida; mas tomar por secundário o facto de esses dois modelos serem, ou não, os seres pelos quais a criança está em relação com a sua origem, é uma abordagem bastante superficial. Que situações diferentes, na sequência dos percalços da vida, aconteçam e devam ser acompanhadas é uma coisa; que esta privação seja instituída, à escala colectiva e a priori, para milhares de crianças, é outra, e é moralmente inaceitável.
À ideologia “homoparental” preside uma lógica de dissociação entre parentalidade e paternidade, portanto, mas também entre sexualidade e filiação, entre casal e procriação e até entre procriação e filiação(...). É preciso ver que a cada um dessas dissociações corresponde uma descontinuidade na história da criança. No caso da adopção, à separação entre pais naturais e pais adoptivos – o que já é uma dificuldade – vem juntar-se o facto de o casal dos segundos não ser análogo ao casal dos primeiros. No entanto, esta analogia tem um valor preciso para o filho: os pais adoptivos são incarnados, são carnais. Eles são, carnalmente, pai e mãe. E é importante que o sejam. Na falta deles, à descontinuidade da adopção vem juntar-se, para o filho, a da distorção das referências parentais.

Xavier Lacroix, A Confusão dos Géneros
SP

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