sábado, 2 de agosto de 2008

Interpelação-Resposta

Caravaggio - Vocação de Mateus


“Como vemos nós que este gesto realiza, de facto, uma interpelação, que essa interpelação origina uma vocação e, portanto, se dirige a um apenas, que o identifica e o reconhece? Nós vemo-la – a esta interpelação – manifestar-se no olhar de Mateus, infinitamente mais do que no gesto do próprio Cristo; porque Mateus, que levanta os olhos da mesa e se desvia das moedas, não se apercebe tanto de Cristo, mas sim do seu olhar, que o atinge; … Então – e nisso está o momento decisivo – apanhado no cruzamento dos olhares, Mateus tenta, com a sua mão esquerda, o gesto de se designar a si mesmo, em silenciosa resposta à interpelação, que não podia ser dita, nem escutada, e pergunta, ou melhor, anuncia: «Eu?» O que faz ver a vocação, isto é, a interpelação duplamente invisível, não resulta de um sinal visível (de facto, sempre indistinto), mas da própria resposta”.

Jean-Luc Marion, Étant donné, Paris 1997, 392-393.

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