segunda-feira, 15 de março de 2010

Ponte entre Deus e os Homens I


Um sacerdote, para ser realmente mediador entre Deus e o homem, deve ser homem. Isto é fundamental, e o Filho de Deus fez-se homem precisamente para ser sacerdote, para poder realizar a missão do sacerdote. Deve ser homem, mas não pode sozinho fazer-se mediador com Deus. O sacerdote precisa de uma autorização de uma instituição divina, e só pertencendo às duas esferas, a de Deus e a do homem, pode ser mediador, pode ser "ponte". É esta a missão do sacerdote: combinar, relacionar estas duas realidades aparentemente tão separadas, isto é, o mundo de Deus distante de nós, muitas vezes desconhecido do homem, e o nosso mundo humano. A missão do sacerdócio é a de ser mediador, ponte que une, e assim levar o homem a Deus, à sua redenção, à sua verdadeira luz, à sua verdadeira vida. Por conseguinte, como primeiro ponto o sacerdote deve estar da parte de Deus, e unicamente em Cristo esta necessidade, esta condição da mediação, é plenamente realizada. Por isso, era necessário este Mistério: o Filho de Deus faz-se homem para que exista a verdadeira ponte, a verdadeira mediação. Os outros devem ter pelo menos uma autorização de Deus ou, no caso da Igreja, o Sacramento, isto é, introduzir o nosso ser no ser de Cristo, no ser divino. Só com o Sacramento, com este acto divino que nos cria sacerdotes na comunhão com Cristo, podemos realizar a nossa missão. Ninguém se faz sacerdote por si mesmo; só Deus me pode atrair, pode autorizar-me, pode induzir-me à participação no mistério de Cristo; só Deus pode entrar na minha vida e pegar-me pela mão.
Tornemos esta realidade também um factor prático da nossa vida: se é assim, um sacerdote deve ser realmente um homem de Deus, deve conhecer Deus de perto, e conhece-o em comunhão com Cristo. Então devemos viver esta comunhão e a celebração da Santa Missa, a oração do Breviário, toda a oração pessoal, são elementos do ser com Deus, do ser homens de Deus. O nosso ser, a nossa vida, o nosso coração devem ser fixados em Deus, neste ponto do qual não devemos sair, e isto realiza-se, fortalece-se dia após dia, também com breves orações com as quais nos relacionamos com Deus e nos tornamos cada vez mais homens de Deus, que vivem na sua comunhão e assim podem falar de Deus e guiar para Deus. O outro elemento é que o sacerdote deve ser homem. Homem em todos os sentidos, isto é, deve viver uma verdadeira humanidade, um verdadeiro humanismo; deve ter uma educação, uma formação humana, virtudes humanas; deve desenvolver a sua inteligência, a sua vontade, os seus sentimentos, os seus afectos; deve ser realmente homem, homem segundo a vontade do Criador, do Redentor, porque sabemos que o ser humano está ferido e a questão de "o que é o homem" é obscurecida pelo facto do pecado, que ofendeu a natureza humana até às suas profundezas. Assim diz-se: "mentiu", "é humano"; "roubou", "é humano"; mas não é este o verdadeiro ser humano. Humano é ser generoso, é ser bom, é ser homem da justiça, da prudência verdadeira e da sabedoria. Por conseguinte, sair com a ajuda de Cristo deste obscurecimento da nossa natureza para alcançar o verdadeiro ser humano à imagem de Deus, é um processo de vida que deve começar pela formação para o sacerdócio, mas que se deve realizar depois e prosseguir em toda a nossa existência. Penso que as duas coisas caminhem fundamentalmente juntas: ser de Deus e com Deus e ser realmente homem, no verdadeiro sentido que o Criador quis, plasmando esta criatura que somos nós.
Ser homem: a Carta aos Hebreus faz um realce da nossa humanidade que nos surpreende, porque diz: deve ser um que "pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza" (5, 2) e depois ainda muito mais forte "quando vivia na carne, ofereceu, com grande clamor e lágrimas, orações e súplicas Àquele que O podia salvar da morte, e foi atendido pela Sua piedade" (5, 7). Para a Carta aos Hebreus é elemento essencial do nosso ser humano a compaixão, o sofrer com os outros: esta é a verdadeira humanidade. Não é o pecado, porque o pecado nunca é solidariedade, mas é sempre uma não-solidariedade, um tomar a vida para mim mesmo, em vez de a doar. A verdadeira humanidade é participar realmente no sofrimento do ser humano, significa ser um homem de compaixão metriopathein, diz o texto grego isto é, estar no centro da paixão humana, carregar realmente com os outros os seus sofrimentos, as tentações deste tempo: "Deus, onde estás neste mundo?".


Bento XVI

SP

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